B.I.E.N.A.L.
seis letras para uma gramática não universal
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B. banquete
Como no sympósion grego. Um programa e uma festa. O ritual. O prazer e a comida. Espaço antropológico e dádiva dos deuses. Território rural e urbano. Ainda pólis. Ainda cidadania e sacrifício. A sobrevivência que é esforço e trabalho. Entre as bestas e o sagrado. Pensamentos que são caminhos. A arte.
Para este banquete público e privado chegam companheiros de todo o lado, de regiões próximas e distantes, ricos e pobres. A hospitalidade. A philia que também é amor. Mesmo possuindo todos os bens ninguém escolheria viver sem amigos, disse Aristóteles. É esta a aristocracia da comunidade.
Como no sympósion grego. Um programa e uma festa. O ritual. O prazer e a comida. Espaço antropológico e dádiva dos deuses. Território rural e urbano. Ainda pólis. Ainda cidadania e sacrifício. A sobrevivência que é esforço e trabalho. Entre as bestas e o sagrado. Pensamentos que são caminhos. A arte.
Formas simbólicas que configuram formas sociais. Esparta e os outros. Assimetrias do ouro e da prata. A política nas imagens e além delas. Diplomacias da circulação e dos regimes. Figuras negras sem mulheres, crianças e escravos. Os vasos. A história. Os pintores.
Para este banquete público e privado chegam companheiros de todo o lado, de regiões próximas e distantes, ricos e pobres. A hospitalidade. A philia que também é amor. Mesmo possuindo todos os bens ninguém escolheria viver sem amigos, disse Aristóteles. É esta a aristocracia da comunidade.
Narrativas poéticas, abismo e excesso. Hybris. 2021. Sem orgia.
I. influência
A angústia da influência ou do encobrimento como também lhe chamou Harold Bloom: “na história diz-se apenas que é preciso chegar ao lugar. Depois de cavalgar três dias e três noites chegou ao lugar, mas decidiu que não era sítio onde se pudesse chegar.”1 Lutas e sobrevivências que procuram os ruídos do tempo. Ler em voz alta seguindo a ressonância. Clinamen.
A bienal e as relações intra-artísticas. Histórias de famílias armazenadas. A memória, a herança e a anatomia dos nomes. Densidades inventariadas em múltiplas localizações geográficas. Atravessar todos os modos, todas as línguas.
Outsiders. Auto-determinação e actividade colectiva como trabalho de campo — a história das subjectividades. Ruminar o arquivo e dele fazer nascer os processos de singularização do nosso devir-outro. A ética da transgressão ou pensar o impensado como reivindicou Michel Foucault:
O homem e o impensado são, ao nível arqueológico, contemporâneos. […] O impensado (qualquer que seja o nome que se lhe dá) não está alojado no homem como uma natureza mumificada ou uma história que nele se houvesse estratificado, mas é, em relação ao homem, o Outro: o Outro fraterno e gémeo, nascido não dele, nem nele, mas ao lado e ao mesmo tempo numa idêntica novidade, numa dualidade irreversível.2
1 Harold Bloom - A angústia da influência . Lisboa: Ed. Cotovia, 1991, p. 175.
2 Michel Foucault - As palavras e as coisas. Lisboa: Ed. 70, 1991, p. 365.
2 Michel Foucault - As palavras e as coisas. Lisboa: Ed. 70, 1991, p. 365.
E. encontro
Os benfeitores
O fracasso
A acção
Os heróis
Os modelos
Os erros
As excepções
As maiorias
Os clássicos
O desvio
Os benfeitores
O fracasso
A acção
Os heróis
Os modelos
Os erros
As excepções
As maiorias
Os clássicos
O desvio
Disse Nietzsche que o génio é forte e a época é fraca.
N. noite
‘Estás a dormir, Sócrates?’
‘Não, não estou.’
‘Sabes o que me veio à ideia?’
‘O quê? Diz lá...’
‘Acho que és o único homem digno de ser meu amante mas, ou muito me engano, ou tens receio de te declarares a mim...’“3
3 Platão - O Banquete. Lisboa: Edições 70, 2001, pp. 93-94.
A. arte
A possibilidade de diferentes palavras.
Erros de tradução.
Susceptibilidades de base.
F de fake.
Promessas e marchas no deserto.
Paradoxos e disputas em contornos de ficção.
A inutilidade é difícil. A miséria é desnecessária.
As formas puras do lucro. As visões do futuro.
A madrugada aproxima-se. Vocalises.
La Beauté.
Erros de tradução.
Susceptibilidades de base.
F de fake.
Promessas e marchas no deserto.
Paradoxos e disputas em contornos de ficção.
A inutilidade é difícil. A miséria é desnecessária.
As formas puras do lucro. As visões do futuro.
A madrugada aproxima-se. Vocalises.
La Beauté.
A arte. Cozinhar a própria vida : título da Introdução às Instruções para o cozinheiro zen, de Mestre Dogen, mestre zen japonês do século XII.
L. leveza
Tanto em Lucrécio como em Ovídio a leveza é um modo de ver o mundo que assenta na filosofia e na ciência: as doutrinas de Epicuro para Lucrécio, e as doutrinas de Platão para Ovídio. [...] Mas em ambos os casos a leveza é algo que se cria na escrita, com os meios linguísticos que são os do poeta, independentemente da doutrina do filósofo que o poeta declara que pretende seguir.4
4 Italo Calvino - Seis propostas para o próximo milénio. Lisboa: Ed. Teorema, 1998, p. 24.
O que existe na leveza é a profundidade. É lá que os efeitos se deslocam. Se desmembram. A profundidade convoca o lugar da batalha ganha por Perseu contra o monstro marinho. A libertação de Andrómeda.
Aconselhava Epicteto que o nosso comportamento devia ser como num banquete: quando um prato, percorrendo os convidados, é colocado à nossa frente, basta estender a mão para nos servirmos como convém. Se nos passa pelo nariz, não devemos insistir. Se o prato chegar tarde não precisamos de salivar mas apenas aguardar que chegue até nós.
Recordamos a viagem do jovem que as filhas do Sol, no poema de Parménides, conduzem pelos “caminhos da noite e do dia”. Talvez Zaratustra, bailarino, nos possa acompanhar. O corpo, a vida e o relâmpago. Para o ano novo.
— Texto escrito de acordo com a antiga ortografia