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Pecados e Capitais

ou uma certa névoa para espaços (                        ) vazios




PECADOS E CAPITAIS SINS AND CAPITALS  WEBSITE 



O projecto curatorial PECADOS E CAPITAIS ou uma certa névoa para espaços vazios, é constituído por seis exposições em espaços internacionais, projecção de dois filmes+ apresentação de uma obra site specific em território nacional e  um projecto editorial.

Curadoria — Eduarda Neves





(I)


A cidade é incoerente como o capital. A industrialização e o fumo. 1952. A sinistra poluição de Londres. Névoa sem misticismo. O espaço inerte. A lei do ar limpo. 1956. A energia verde prepara os jogos de guerra. A economia azul é desenhada como um teatro de operações. Campos de manobras. Ilhas artificiais são construídas para uso militar. O ciclo infernal nacionalista e messiânico. 2023. Pecados e capitais. A Terra Inabitável ou acreditar que ainda somos capazes. Escreveu David Wallace-Wells:

As soluções, quando ousamos imaginá-las, são também globais.










(II)


A respiração dobra fisicamente o sentido. Somos tocados pelo vento perfumado que transforma a multidão num arrebatamento delirante. Há populações que contrariam a mortificação e oferecem um certo incómodo. Enunciam outra terra e distintas palavras, murmuram que o Sol é um efeito lírico sem capital. Também imaginam caminhantes sobre um mar de névoa. Acreditam já ter visto um deles em Hamburgo e segredam que apenas o múltiplo torna possível a aproximação ao infinito. Argumentam que não existe névoa sem Sol. A voz de Cornelius Castoriadis:

Falo de instituição imaginária da sociedade porque esta criação é obra do imaginário colectivo anónimo.

(III)


Nomadismo da obra e do capital — poder, controlo e espaço espectacular — o ciberespaço. A ontologia dos dados e a consolidação do Ser. Viajamos mais rapidamente. Temos milhões de visitas electrónicas diárias através das quais ajustamos o mundo. Perdemos o espaço euclidiano, ou, se preferirmos, o espaço cartesiano. Os pontos de referência já não se relacionam com as unidades de distância. Estas, na forma de Michel Serres, deram lugar a espaços de vizinhança:

As novas tecnologias não reduzem a distância, transportam as casas para um espaço completamente diferente, um espaço topológico.










(IV)


O espaço expositivo. À maneira de Immanuel Kant — a forma, se nos abstrairmos dos objectos, é uma intuição pura que tem o nome de espaço. O invisível tornado visível de Peter Brook — o espaço vazio e o espaço sagrado. O silêncio. Convoquemos para as obras e por analogia com Artaud, um espaço da crueldade que funciona como a peste, por intoxicação. A forma é matéria e energia. A obra é capital. A acção mágica que não prescinde da contingência. A transfiguração que cumpre o rigor do vivido. Artaud, magnético:

Mal que há-de ser finalmente minorado, no instante supremo em que tudo o que era forma estiver prestes a retornar ao caos.

(V)


Intensidade do campo magnético e densidade das linhas. Nunca se cruzam. As obras são cargas eléctricas e as trajectórias que assumem as respectivas velocidades descrevem, no interior desse campo, vários movimentos. O espaço travestido estimula choques sem pecado — linhas, circuitos e forças, estrutura, processo, vibração e fluxo. Ultrapassar as categorias a favor das digressões. A arte. A obra que trans(forma) o espaço modifica-se a si própria. Na celebração de Harald Szeemann:

A obra e o espaço são uma e a mesma coisa.




Nas exposições temos muitas coisas para fazer com o espaço;
a liberdade é o próprio espaço.

(Harald Szeemann)


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